Ocupa Caic - Fortaleza (CE)

Kaliane Senna
Estudante do Ocupa Caic e componente do Grêmio Estudantil Chico da Matilde

Vivi parte da minha infância estudando em escolas particulares, meus pais sempre me diziam que eles se sacrificavam para me dar uma educação de qualidade, eles não queriam que eu fosse para uma escola pública, porque achavam que lá eu não ia ter a mesma qualidade de ensino que eu teria em uma instituição privada. Cresci vendo meus pais preocupados, pois não tinham dinheiro suficiente para alimentar nossa família, pagar as contas e ainda pagar uma escola particular para mim e minha irmã, eles queriam um futuro melhor para nós duas, e por isso todos os anos, eles passavam noites angustiados, se perguntando o que fariam para pagar livros caríssimos para que suas queridas filhas tivessem um futuro melhor.

Quando cheguei ao 9º ano do ensino fundamental, as coisas se complicaram e meus pais foram obrigados a fazer o que mais temiam, me matricularam numa escola pública. Lembro-me bem do dia que cheguei no CAIC – Maria Alves Carioca, tinha gente de todos os tipos, tudo era novo para mim ali. Aos poucos eu fui me adaptando à vida de estudante de escola pública, e fui passando a amar aquela escola com todo o meu ser, pois CAIC oferecia diversos projetos para os estudantes e para a comunidade, que foram cortados ao longo dos três anos que estudo lá. A escola era antiga, a estrutura estava precária, quando chovia as salas ficavam alagadas, nunca consegui engolir o fato de uma escola tão maravilhosa pudesse estar caindo aos pedaços, e dentro de mim veio crescendo um sentimento de revolta.

Estudar no CAIC me fez perceber o quão abandonada está a educação brasileira, os nossos governantes não ligam se o teto da sala cai sobre nossas cabeças, ou se passamos o dia com fome porque a merenda não deu pra todo mundo, eles não ligam porque não pagamos a eles, porque não damos lucros agora. Tudo isso é girado em torno de um sistema econômico opressor, onde quem não tem dinheiro não consegue ter um ensino de qualidade, onde os jovens da periferia não tem boas oportunidades no mercado de trabalho.

A ocupação é um protesto dos alunos em repúdio aos cortes que o governo está fazendo na educação. Nós alunos, cansamos de ver nossa escola tão bonita ser destruída, cansamos de esperar que o governo tome a iniciativa de fazer algo por nós, resolvemos tomar nossos destinos nas nossas mãos e ir a luta, por uma educação libertadora, uma educação que não nos ensine somente a obedecer, mas sim a pensar. Ao contrario do que muitas pessoas pensam, a ocupação não é e nunca será vaga, a ocupação é um momento pleno de aprendizagem, onde os alunos são os protagonistas de um movimento lindo.

Através da ocupação descobrimos que ao invés de perambularmos pelos corredores, presos a ordens ditadas para nós, existe um eu dentro de cada um de nós, que é capaz de formular nossas próprias ideias. A ocupação é libertadora, ela vem ensinando a mim e a diversos alunos que juntos possuímos o poder de mudar tudo a nossa volta, que temos o poder de mudar o mundo. E é por esse motivo que precisamos unir cada vez mais nossas forças, não vamos parar por migalhas oferecidas por nosso governador, com o intuito de nos conter. Queremos uma educação de qualidade não apenas para uma parte, mas sim para todos. Nós somos o poder, e juntos venceremos quaisquer obstáculos. Avante estudantes! Não tem arrego!

                     
                                                                                                                                                                                                                 Reprodução: Facebook/Página Ocupa Caic