Comissão sobre produtos artístico-culturais para o PNPG contará com Sessão Conversa na ANPEd Sudeste 2022; confira entrevista e formulário para produtores

A ANPEd Sudeste 2022 promoverá no dia 28 de novembro, segunda-feira, às 18h, uma Sessão Conversa sobre a Comissão de Avaliação dos Produtos Artístico-culturais na Educação. Com a presença de Paulo Carrano (UFF), Adriana Fresquet (UFRJ) e Maria Luíza Süssekind (UNIRIO), a atividade debaterá proposições para o campo a partir do Plano Nacional de Pós-Graduação 2021-2030, ainda em fase de elaboração.

A ANPEd Nacional criou no dia 08 de agosto de 2022 comissão especial para propor políticas de valorização de tais produtos no contexto do PNPG 2021-2030, com particiação de representantes de diferentes GTs da Associação. Além do diálogo entre as instâncias da entidade, a comissão parte do caráter multidisciplinar e de articulações entre textualidade e visualidade - a ANPEd vem promovendo nos últimos anos importantes iniciativas de visibilidade a produções de filmes de pesquisa na Educação.

A Comissão criou um formulário no sentido de conhecer melhor quem faz os produtos, num primeiro movimento público de sondar a área e tecer rede de produtores/as interessadas no tema.  Clique aqui para acessar e preencher o formulário.

Segundo Paulo Carrano, presidente da Comissão, o intuito do coletivo é o de "fortalecer o diálogo no âmbito da pós-graduação e a  circularidade entre as artes, as múltiplas dimensões do cultural e as ciências numa busca de entrelaçamento de linguagens visando o fortalecimento da produção científica em bases de pluralismo epistêmico e metodológico."

Confira entrevista com Paulo Carrano (UFF): 

Qual contribuição vocês pretendem trazer para o Plano Nacional de Pós-Graduação a partir da Comissão Especial criada pela ANPEd, da qual você está na presidência? 

Contribuir para o Plano Nacional de Pós-Graduação é uma das motivações expressas na Resolução 10/2022 da ANPEd que criou a Comissão Especial para Propor Política de Valorização da Produção Artístico-Cultural na Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. 

É preciso dizer que um novo Plano, para o período 2021-2030, já deveria ter sido elaborado. O atual plano se encerrou no ano de 2020. Não é difícil pensar que este atraso na formulação de plano tão essencial para organizar a vida da pós-graduação no Brasil é resultado do desmonte das institucionalidades públicas promovidas nos últimos anos pelo Governo Federal a partir da eleição do Presidente Jair Bolsonaro, o que inclui a CAPES, que vive hoje sua pior crise desde a sua criação em 1952. A derrota da extrema-direita na eleição presidencial deste ano nos faz trabalhar com a motivação e a esperança de que poderemos juntos reimaginar o futuro também da pós-graduação e da pesquisa no país no contexto de um governo de reconstrução democrática, com o Presidente Lula.

A Comissão de valorização da produção artístico-cultural promoverá ações e diálogos entre as diferentes instâncias e associados da ANPEd. Acreditamos poder contribuir para a inter e multidisciplinaridade já percebidas no decênio anterior na pós-graduação nacional. Nos últimos dez anos vimos surgir a grande área Multidisciplinar e o crescimento significativo de programas de caráter interdisciplinar. Independente dessa configuração institucional, o que se percebe é a preocupação com criação de condições para o desenvolvimento científico numa perspectiva de diálogo entre pesquisadores, discentes, grupos de pesquisa e entre distintas áreas do conhecimento, sem que se busque, necessariamente, a criação de um novo programa interdisciplinar. Podemos dialogar mais e melhor entre os diferentes campos do conhecimento a partir de nossas áreas próprias no interior da CAPES. 

E é nesta perspectiva multidisciplinar mais ampla que entra a interlocução entre artes, culturas e ciências. O desafio é conferir maior complexidade e nuances à representação da realidade a partir da resolução de problemas científicos a serem enfrentados por múltiplas epistemologias e caminhos metodológicos. E é preciso dizer que a perspectiva não é a de buscar afirmar a maior ou menor condição de representar a realidade entre a arte e a ciência. Até porque os dois campos sofrem da mesma insuficiência da incompletude representacional. A realidade, em sua inteireza, sempre escapa. Há um vasto campo ainda a explorar; novas formas de produzir, narrar e expressar o discurso científico. Uma vertente desse processo encontra-se nas articulações entre as dimensões da textualidade e a visualidade, sem que uma, isoladamente, possa ser considerada superior a outra. Se por um lado o século XX radicalizou o entrelaçamento de artes, espaços e tempos, em especial, através da fotografia, do cinema, da videoarte, por outro, no século XXI as artes eletrônicas e as criações digitais ancoradas em algoritmos, por exemplo, aprofundam relações rizomáticas entre diversas disciplinas artísticas (artes visuais, dança, música, teatro) com a utilização de múltiplas ferramentas tecnológicas que contribuem para a renovação do fazer científico. 

O esforço é, portanto, o de fortalecer o diálogo no âmbito da pós-graduação e a  circularidade entre as artes, as múltiplas dimensões do cultural e as ciências numa busca de entrelaçamento de linguagens visando o fortalecimento da produção científica em bases de pluralismo epistêmico e metodológico. Em síntese, é possível imaginar que o novo Plano Nacional de Pós-Graduação afirme a importância das múltiplas possibilidades de encontros entre o racional e o sensível na produção científica. 

Que produtos e manifestações pensam que merecem maior valorização? O que a área da Educação já vem produzindo a esse respeito? 

No âmbito das reuniões nacionais da ANPEd temos um estimulante movimento que nos dá notícias, notadamente no campo do audiovisual, do investimento de pesquisadores/as e discentes dos programas de pós-graduação e também docentes da educação básica que têm produzido filmes associados aos processos de pesquisa. 

Na ANPEd, tais movimentos têm ganhado forma e força nas edições da Mostra Curta ANPEd (a I, na UFSC, em 2015; a II, na UFMA, em 2017; a III, na UFF, em 2011; a IV, na UFPA, em 2021 – todas nas reuniões nacionais da ANPEd) e nas atuações dos GTs ‘Trabalho e Educação’; ‘Educação de crianças de 0 a 06 anos’; ‘Currículo’ e ‘Educação e Arte’. 

Nas quatro edições da Mostra Curta ANPEd - entre 2015 e 2021 - contamos com a participação de 95 filmes de diversas regiões do país que trataram de diferentes temáticas e com múltiplas orientações teórico-metodológicas. A Mostra de videodocumentário Trabalho e Educação (GT09), no mesmo período, contou com a inscrição de 32 filmes. E a Mostra de vídeos voltados à formação de professoras/es de crianças de 0 a 6 anos em creches e pré-escolas (GT 07) recebeu 15 inscrições em suas duas edições, em 2019 e 2021. 

Sabemos, ainda, da existência de diversificadas formas de produção de conhecimento em nossa área que estabelecem inter-relações, além do cinema e da fotografia, com a literatura, a música, as artes plásticas e cênicas, gráficas etc. Um dos esforços da Comissão de valorização de produtos artísticos e culturais da ANPEd é ampliar nosso conhecimento sobre o que é produzido na área e promover  diálogos entre os sujeitos da criação desses produtos intelectuais que sintetizam os entrecruzamentos entre a arte e a ciência. 

Como pretendem organizar isso dentro da comissão e de que forma a composição da comissão espelha essa diversidade de visões da produção cultural para a pós-graduação?

A Comissão pretende animar o debate na ANPEd, em especial, nos GTs e Programas de Pós-Graduação em Educação. É preciso destacar que a valorização do artístico cultural não passa pela obrigatoriedade de que docentes e programas de pós-graduação produzam conhecimento em interface com a arte e a cultura. A busca é por possibilitar que aquilo que se produza nos grupos e linhas de pesquisa venha a ser reconhecido como um produto intelectual qualificado, a exemplo do que ocorre com artigos em periódicos, e para além da classificação atual que subvaloriza enquadrando esses produtos na condição de "técnicos". 

Nesta perspectiva, a Comissão enxerga a possibilidade de criação de um Qualis Artístico-Cultural próprio na área da Educação a partir dos parâmetros que outras áreas da CAPES já produziram (Ver o documento anexo GT Qualis Artístico/Classificação de eventos). 

Na proposta já consolidada pelo Grupo de Trabalho Qualis Artístico/Cultural e Classificação de Eventos da CAPES, temos a influência das áreas de Artes (subáreas Artes Cênicas, Artes Visuais e Música), Antropologia, Design e Arquitetura e Comunicação, citando a consonância entre as categorias criadas no documento e as especificidades de cada área: Cinema e Audiovisual; Etnografias Audiovisuais; Escrita Literária e Projeto arquitetônico, urbanístico, paisagístico, gráfico e de produto. A adesão da área da Educação ao referido documento precisaria passar por um debate sobre quais são as classificações que nos atendem no campo da Educação.

A Comissão da ANPEd pretende conhecer o que vem sendo produzido entre os diferentes programas de pós-graduação. A comissão tem mantido calendário de encontros visando alavancar o debate no interior da ANPEd. Já discutimos algumas possibilidades de atuação que passam pela criação de ferramentas próprias para sondagens e diálogos, tais como a leitura das propostas dos programas na avaliação quadrienal; a distribuição de questionário para conhecer a abrangência da produção artístico-cultural entre docentes e discentes da pós-graduação; e a promoção debates entre pesquisadores e estudantes envolvidos com a produção artística e cultural, na área da Educação e outras áreas. 

A Comissão de valorização de produtos artísticos e culturais da ANPEd é constituída por integrantes da Diretoria da ANPEd e por associados dos seguintes Grupos de Trabalho: GT02 – História da Educação; GT 03 - Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos; GT07 - Educação de Crianças de 0 a 6 anos; GT12 - Currículo; GT16 - Educação e Comunicação; GT24 - Educação e Arte. 

Integram a Comissão 

Ana Cristina Nascimento Givigi (UFRB, GT23)
José Edimar de Souza (UCS, GT02)
José Gondra (UERJ, proponente)
Josebel Akel Fares (UEPA, GT24)
Leonardo Nolasco-Silva (UERJ, GT12) – Relator
Leonardo Zenha Cordeiro (UFPA, GT16)
Luciana Velloso da Silva Seixas (UERJ, GT16)
Maria Luiza Sussekind (UniRio, Diretoria)
Nilda Guimarães Alves (UERJ, proponente)
Paulo César Rodrigues Carrano (UFF, proponente) – Presidente
Romilson Martins Siqueira (PUC-GOIAS, GT07)
Soraya Conde (UFSC, GT09)