Educar por um sonho | colaboração de texto | por Maria Rosa de Miranda Coutinho

por Maria Rosa de Miranda Coutinho - Pesquisadora e mestre pela UFSCar

A única maneira de quebrar a corrente da pobreza é fazê-lo com crianças.

Tristemente, desconfio que no Brasil, é tarde demais para os adultos. Precisamos deixar a geração adulta ir e começar a partir de hoje.

Muitas pesquisas têm apontado para o fracasso do poder público em relação à educação escolar e o principal problema identificado por educadores especialistas, é a falta de investimentos.

Não adianta mais discutirmos a formação dos professores, o modelo de ensino, as novas tecnologias e o plano de ensino sem que o governo assuma seu papel que é de promover a boa qualidade de ensino e isso passa pelo orçamento público.

Entre as notícias desagradáveis sobre a educação brasileira, soubemos há poucos dias que o governo Bolsonaro até agora foi o que menos investiu neste setor, comparado ao mesmo tempo de gestão de outros governos.

A pandemia, na verdade, vem sendo um argumento conveniente para deixar que as demandas sociais sucumbam, e a educação com toda certeza está entre elas.

Sem mencionar aqui a insegurança sanitária na volta às aulas e os gastos do governo com um mísero auxílio emergencial, vejo a realidade da comunidade escolar totalmente depreciada por uma política apenas eleitoreira e incapaz.

Gostaria de poder referendar alguns avanços do ministério da educação, mas o reconheço como inexistente nessa trajetória de governo. É um ministério ausente frente às questões graves em tempo de pandemia como a perda de conteúdo escolar, o atraso cognitivo do aprendizado, a improvisação de muitas escolas desestruturadas, a pobreza dos professores que cumprem dupla jornada escolar, bem como o empobrecimento das famílias dos estudantes.

A campanha eleitoral constante de Bolsonaro, à revelia ainda da sociedade, ameaça o futuro das gerações de hoje e o que me parece mais preocupante é que essa mesma sociedade não conseguiu perceber em tempo o saldo negativo na educação.

Novas pesquisas precisam dar conta da relação entre educação, trabalho e bem-estar social a partir dos próximos anos e certamente constataremos uma acentuada decadência socioeconômica entre jovens adultos.

Em vez de lamentarem pelo que são, os estudantes de escolas públicas, especialmente, gostam de falar sobre quem querem ser. Eles sonham. A maior diferença entre as crianças e jovens dentro da escola e fora delas é a capacidade de sonhar. Por isso, não há governo inepto que se sustente quando há uma geração jovem que sonha. É preciso que o sonho dela seja de todos e a educação uma prioridade constitucional.

Quando a política do governo não é favorável à educação do país, corre-se o risco de não alcançarmos um futuro próspero e mais do que isso, retrocedermos em nossa compreensão política. O que pode significar uma ameaça à democracia com suas garantias de direitos, uma delas a educação integral, gratuita e libertadora.