Expressões | Resistência Criativa | André Barbosa Gouveia – presidente da ANPEd

Andréa Barbosa Gouveia – presidente da ANPEd

O aprofundamento de políticas de ajuste fical, a seleridade dos efeitos da reforma trabalhista  e o discurso conservador centrado na intolerância tanto de agentes públicos, quanto das pessoas no cotidiano, conformam um período de grandes perdas para as políticas sociais. O trabalho de professores, pesquisadores e pós-graduandos nas universidades; o trabalho de professores e estudantes da educação básica, assim como a vida cotidiana da população é fortemente atingida por este cenário.  

O grande número de demissões nas universidades privadas no final de 2017, que podem ter atingindo a vida de programas de pós-graduação; o contingenciamento dos recursos nas universidades públicas que descontroem as condições de trabalho cotidianamente; os constantes atrasos nos editais de fomento e a diminuição do volume e da capacidade de investimento destas agências. Tudo isso sinaliza que os efeitos de uma política centrada na ideia de contingênciamento é um equivoco que compromete a capacidade de produção científica e de formação de quadros no país. Aliado a isto, os episódios de intolerância se multiplicam: censura em disciplina e desrepeito à autonomia do campo científico para produzir conhecimento somam-se aos processos contra orientadores, aos trato abusivo contra as gestões universitárias. A ideia de liberdade de pensamento e a possibilidade de produção de ciência com compromisso social e inovação científicas estão na berlinda. Tais ataques somam-se a falta de recursos e falta de respeito aos príncipios que constituem a República brasileira.

O contexto de resistência possível é fazer mais o que fazemos de melhor: pesquisar mais, problematizar mais profundamente, dialogar mais, divulgar amplamente nossa capacidade de criatividade e resistência! Nesta direção, a ANPEd começou o ano com uma intensa preparação das Reuniões Científicas Regionais de 2018, mas também começou com planejamento do trabalho da diretoria, consulta às instâncias da ANPEd (GTs, FORPRED, FEPAE) sobre indicações para o CNE e o trabalho árduo na preparação do sistema da ANPEd para que a submissão dos trabalhos nas regionais seja mais ágil e simples para os associados.

Este ano estaremos reunidos em Porto Alegre (Sul), Campinas (Sudeste), Cáceres (Centro Oeste), Rio Branco (Norte) e em João Pessoa (Nordeste). Encontros de pesquisa com forte capacidade de aprofundar a compreensão dos desafios da educação contemporânea, compreendendo as inúmeras dimensões da educação no contexto social nacional e internacional, mas também dialogando com a riqueza de nossa diversidade regional que traz contornos específicos e possibilidades imensas para construção do conhecimento.

Além desta agenda acadêmica, estamos construindo junto com o Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE) a Conferência Nacional Popular de Educação (CONAPE). Já foram mais de 700 conferências municipais, e o mês de março será o período das etapas estaduais para, em maio, promovermos uma grande Conferência Nacional para atualizar nossa pauta política de defesa da educação pública, gratuita, laica, de qualidade para todos e todas. 2018 está só começando, a articulação dos pesquisadores em educação é fundamental e a ANPEd é o espaço para nossa organização.