Abertura da ANPEd Sudeste 2022 na UFMG, com conferência online de Luiz Carlos de Freitas, reforça papel da Educação para reconstrução social e política do país

reportagem e imagens: João Marcos Veiga

O auditório Neidson Rodrigues, na Faculdade de Educação da UFMG, em Belo Horizonte, recebeu na noite desta terça (30) a abertura oficial da ANPEd Sudeste 2022. Logo no início, Isabel Casimira Gasparino, a Rainha Conga Belinha, fez uma saudação e benção aos participantes da 15ª edição do evento, que acontece em formato híbrido até sexta (2).

Enquanto a plateia trazia jovens rostos de alunos e professores da FAE e de outras universidades, como a UFSJ, a mesa foi composta por organizadores do evento e autoridades que destacaram a importância do encontro, da faculdade anfitriã e da defesa da área - a reunião tem como tema “Educação, democracia e justiça social no desafio urgente da reconstrução nacional”.

Andrea Moreno, Diretora da Faculdade de Educação da UFMG, evidenciou a honra de receberem o evento, abrindo as portas da FAE aos participantes, mas também chamou a atenção para novos cortes no apagar das luzes do atual governo, que exigem vigilância da área. Eucidio Pimenta Arruda (UFMG), coordenador da ANPEd Sudeste 2022, lembrou que as reuniões da ANPEd são realizações coletivas, fruto do trabalho de muitas pessoas por anos. “Chegamos aqui com o espírito de educação fortalecido”, afirmou. 

A Secretária Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben, enalteceu em sua fala o carinho pela FAE, onde é docente, e também os desafios que a Educação enfrentou na pandemia. “A ciência foi nosso grande norte. E agora precisamos selar pactos, sobretudo com maior diálogo entre a educação básica e o ensino superior”. Dalben defendeu o dispositivo do PNE para lutar por um sistema de educação. Na sequência, Isabela Almeida Pordeus, Pró-Reitora de Pós-Graduação da UFMG, pontuou a importância do pertencimento que eventos como a ANPEd Sudeste promovem e a escolha assertiva do tema do evento. “Não há justiça social e reconstrução do país sem o pilar mor, que é a educação”. Pordeus igualmente parabenizou a exposição “Lugar de menina negra é na escola”, fruto de uma pesquisa de doutorado e que pode ser visitada na FAE durante o congresso.

Representando a presidenta da ANPEd, ausente por problemas de escala de voo, a vice-presidente Sudeste da Associação, Maria Luiza Sussekind (Unirio), falou em nome dos quase 5 mil associados da entidade e dos programas de pós-graduação associados. Sussekind enalteceu, sobretudo, o desafio de se descolonizar a própria universidade e os currículos, reconhecendo outras epistemologias de saber, combatendo racismos, eurocentrismos, elitismos e pensamentos de mão única. “Reconstruir a democracia é olhar o Brasil do outro lado do retrato, se deslocar.” Nesse sentido, Sussekind ressaltou a potência das oficinas da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) realizadas no Quilombo de Pinhões, em Santa Luzia (MG), e a Sessão Pública no dia anterior, com a presença de diversos representantes de movimentos sociais e parlamentares do campo progressista. “São experiências que adiam o fim do mundo e nos trazem um conhecimento plural.” O púlpito do auditório estava ornado exatamente com um desenho feito durante as oficinas, com traços feitos à mão do Manifesto Rio Vermelho.

Maria do Socorro Nunes, coordenadora do FORPREd Sudeste, relembrou a responsabilidade de organizarem a regional da ANPEd onde se concentra a maioria dos programas de pós-graduação em educação do país. Para isso, foi formado um pool de universidades de Minas Gerais para juntas conduzirem esse desafio: UFSJ, UFMG, UFJF, UFLA, UFV, UFVJM, PUC-MG, UEMG e CEFET-MG. Para ela, o formato híbrido permite o caráter caloroso dos encontros e a inclusão digital para o público que participa à distância de um evento de tanta relevância no contexto atual do país. “Mesmo depois de quatro anos de tentativa de destruição, nossa democracia continua viva e resistente”, afirmou com aplausos da plateia.

Shirlei Aparecida de Miranda, Pró-Reitora Adjunta de Assuntos Estudantis da UFMG, representando a Reitora da instituição, Sandra Goulart Almeida, encerrou a mesa prestando solidariedade às vítimas dos atentados a escolas em Aracruz (ES), em especial a Flavia Amoss Merçon Leonardo, professora e pesquisadora da UFMG. “Não vamos nos silenciar frente a essa cultura da da morte. E a ANPEd é um espaço de troca e fortalecimento pra nós, lugar de produção instigante e engajada com a vida, com o esperançar”.

Na sequência, tanto as pessoas presentes no auditório quanto em transmissão online acompanharam a conferência de Luiz Carlos de Freitas. O professor aposentado da Unicamp saudou a importante vitória da frente ampla formada pelo presidente Lula para conter o populismo autoritário no país. Mas também ampliou sua análise para além do contexto do presente, trazendo a própria crise do capitalismo e os limites da democracia liberal, que mesmo após 200 anos tem dificuldades de assegurar direitos básicos. “Nenhum sistema pode operar por acumulação permanente sem destruir direitos e o meio ambiente. Não há como tornar o capital humano. Também está em jogo a extinção da escola pública como responsabilidade do estado”, afirmou. Nesse sentido, o conferencista defendeu a radicalização de uma democracia socialista inclusiva, que realmente se paute na solidariedade, para além da mercantilização humana e da educação.

A ANPEd Sudeste 2022 segue até 02 de dezembro, sexta-feira, trazendo na programação a realização de 16 sessões especiais com transmissão ao vivo pelo canal da ANPEd Nacional no Youtube, além de apresentações de GTs, painéis temáticos, lançamentos de livros e apresentações culturais.

Assista à transmissão da solenidade e conferência de abertura: