Entrevista com Marli de Oliveira |Defesa de tese sobre Gestão Democrática em municípios do MS

O programa de pós-graduação em Educação da UFMS contou no dia 21 de julho com a defesa de tese “Dos Planos Municipais de educação à gestão democrática da educação pública: estudo de municípios sul-mato-grossenses”, de autoria de Marli de Oliveira. A pesquisa, que teve orientação da professora Maria Dilnéia Espíndola, traz uma importante investigação sobre planejamento educacional no estado tendo o PNE como epicentro da política educacional. Na perspectiva pessoal, a defesa também ressalta o papel da educação pública na trajetória da jovem pesquisadora de 27 anos. Filha de empregada doméstica formada na EJA e pedreiro que sempre incentivou os estudos das duas filhas, a hoje pedagoga IFMS se considera "cria da política social", do Bolsa Família às bolsas que recebeu nas diferentes etapas de sua ascensão.  "A defesa da educação pública em geral, e dos programas sociais em particular, é parte constante da minha vida. Concluir graduações e me especializar só foi possível pelas políticas sociais. Não se trata de meritocracia. Trata-se de reconhecer as oportunidades de acesso e permanência que tive ao longo dos meus 27 anos de vida, cujos auxílios financeiros foram parte fundamental na materialização do meu direito à educação."  Confira entrevista:

Você acaba de defender tese sobre gestão democrática nos municípios do Cone-Sul no Mato Grosso do Sul. Qual foi o resultado desta pesquisa e o que foi possível concluir sobre tal gestão?

Diante das reflexões realizadas a partir da literatura analisada e dados de pesquisa levantados concernentes a complexa relação em que se situa a gestão democrática nos municípios da região Cone-Sul de Mato Grosso do Sul, nota-se que a regulamentação da gestão democrática no contexto dos Planos Municipais de Educação manifesta-se como instrumento jurídico-normativo e sócio-político em âmbito local. Há o compromisso por parte dos referidos municípios em regulamentá-la, consubstanciada em leis que aprovaram os respectivos planos de educação para o decênio. Enquanto instrumento sócio-político, por sua vez, predomina, embora com ressalvas, os anseios do Poder Executivo Local, sobretudo no que concerne à forma de composição do quadro de diretores escolares, em detrimento do compromisso jurídico-legal assumido, no tocante às metas e estratégias destinadas à gestão democrática da educação. O planejamento educacional no contexto dos planos municipais de educação apresenta-se, portanto, como uma prática social, cuja operacionalização pode envolver a comunidade local conferindo a esse processo dinâmicas coletivas que estimulem a democracia. 

Você veio do interior do Mato Grosso do Sul, tendo pais que não chegaram ao ensino superior, mas que sempre apoiaram seus estudos. Conte um pouco sobre essa história pra gente.

A história da minha família assemelha-se a de muitos brasileiros. Meus pais não tiveram acesso à escola, pois desde à infância precisaram trabalhar para ajudar no sustento da família. Minha mãe, Dona Maria, sempre trabalhou como doméstica e, atualmente, trabalha como copeira. No anos 2000 decidiu estudar e se matriculou na Educação de Jovens e Adultos, finalizando com muito custo em 2013. Meu pai, Sr. Valdeir, é pedreiro e, embora sem escolaridade, sempre reconheceu que suas filhas (eu e minha irmã Márcia), precisávamos estudar para ter condições melhores de vida do que ele e minha mãe tiveram. Meus pais sempre se dedicaram a educação das suas filhas. Inclusive, sempre deixaram muito claro que a única herança que nos deixariam seria em vida: a honestidade e os estudos. 

Sua trajetória escolar e acadêmica passa diretamente pela educação pública, do ensino fundamental ao superior. Como você entende o papel da Educação pública e de ações afirmativas? Elas fizeram diferença na sua trajetória?

Eu sou “cria” de política social. Os auxílios financeiros governamentais recebidos por meio das bolsas me oportunizaram concluir os estudos e ter maiores perspectivas de mundo e melhores condições materiais de vida. A minha trajetória de escolarização se deu na educação pública (da educação infantil à pós-graduação), cujo recebimento de auxílios financeiros governamentais foi fundamental.

Na educação básica recebi o Bolsa Família. Durante a graduação em Pedagogia (UFMS, 2011 - 2014) fui bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/FNDE) e recebia também o auxílio alimentação. No curso de mestrado em educação (UFGD, 2015-2017) recebi bolsa da CAPES/Demanda Social. No curso de Direito (UEMS, 2015-2019) e curso de Doutorado em Educação (2017-2020) não precisei de bolsas, pois no decorrer dos cursos assumi meu concurso público junto à Prefeitura Municipal de Naviraí e, posteriormente, assumi o cargo de Pedagoga no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, cargo que ocupo atualmente. 

A defesa da educação pública em geral, e dos programas sociais em particular, é parte constante da minha vida. Concluir graduações e me especializar só foi possível pelas políticas sociais. Não se trata de meritocracia. Trata-se de reconhecer as oportunidades de acesso e permanência que tive ao longo dos meus 27 anos de vida, cujos auxílios financeiros foram parte fundamental na materialização do meu direito à educação.