Reunião Nacional tem abertura marcada pela defesa do conhecimento indígena e da importância estratégica da Educação para a reconstrução social e política do país

por João Marcos Veiga/ANPEd

fotos: Gláucio Silva

A cerimônia de abertura da 41ª Reunião Nacional, neste domingo (22), teve início e encerrou-se com ritualística de povos indígenas da Amazônia, conduzida pelo antropólogo Jaime Diákara, do povo Dessano. A cerimônia de boas-vindas do maior encontro científico da Educação na América Latina reuniu mais de 2 mil pessoas no auditório Eulálio Chaves da UFAM para exatamente celebrar a produção de conhecimento do Amazonas e a partir deste múltiplo território.

Logo no início, o público se emocionou com homenagem a pessoas associadas que nos deixaram no biênio 2021-2023 e reconheceu a firme atuação da Associação num período marcado por grandes desafios desde o último evento bianual da entidade. A mesa de abertura, com a presença de autoridades das duas universidades sedes do encontro - UFAM e UEA -, representantes do MEC, de discentes, de central de trabalhadores e de associações internacionais de pesquisas, também destacou a importância da ANPEd na política educacional e defesa da pesquisa, da pós-graduação e da democracia.

A abertura da 41ª RN contou com transmissão ao vivo. Assista.

 

Repensar bases para reconstrução social e política do país, com uma educação com equidade, a partir da Amazônia, é o cerne do evento que marca os 45 anos da Associação. Camila Ferreira, coordenadora do PPGE da UFAM, pontuou a importância do encontro em Manaus. “Com cada programa da região, cada professor e com a juventude, estamos mostrando com esse evento a forma com que produzimos conhecimento científico, junto dos saberes ancestrais”, afirmou.

Em sua fala, a presidenta da ANPEd, Geovana Lunardi, diz encerrar as duas gestões à frente da Associação com o orgulho de ter trazido a entidade pela primeira vez para a Amazônia. Lunardi enalteceu a pesquisa produzida na região e a força da Educação brasileira. “Ouçam os pesquisadores. A Educação tem uma pesquisa sólida, consolidada, virtuosa, inovadora e que tem o que dizer das políticas públicas. A Educação é uma área estratégica e prioritária. E precisa ser tratada como tal”, reivindicou.

A abertura também inovou ao abdicar da tradicional conferência em prol de uma mesa coletiva, com intelectuais indígenas. Coordenadora desta mesa, Célia Aparecida Bettiol (UEA) pontuou que o Amazonas, como estado com maior número de indígenas do país, com 71 mil apenas na capital Manaus, é um território onde pulsa a ancestralidade e onde professores indígenas trazem e ensinam outras formas de se pensar a educação e o bem-viver, “num contexto que nos move a repensar as próprias bases da educação”. 

E foi esse conhecimento que se viu nas duas apresentações trazidas para esta mesa. Primeira indígena do Alto Solimões a receber o título de doutora em Educação, Alva Rosa Lana Vieira Tukano colocou a urgência de se “descaravelizar e reflorestar a universidade”, assim como “pluralizar o corpo de gestão, técnico e docente” das universidades, afirmou a coordenadora do FOREEIA (Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena). No mesmo sentido, Ytanaje Cardoso Munduruku, doutor em História, lembrou as atrocidades cometidas contra os povos desde o descobrimento, num extermínio que se espelha numa população de menos de 1% do total de brasileiros atualmente. Ele saiu de sua aldeia, orientado pelos anciãos, para buscar ensino e conhecimento para defender seu povo. “Como disse Kopenawa, foi preciso nós aprendermos a língua dos brancos para eles nos ouvirem. E agora estão nos ouvindo. Mesmo com todas as atrocidades, continuamos a reclamar nossos direitos. O Brasil só tem esperança se ouvir sua população”, disse o pesquisador, lembrando que a sobrevivência de todos depende da preservação da Amazônia, retomando o triste cenário de queimadas que tomou a capital amazonas de fumaça nos dias anteriores ao evento.

No encerramento da sessão de abertura, o público foi envolvido por uma grande festa com boi amazônico, também presente em Parintins, mostrando a riqueza das manifestações populares indígenas, em rico diálogo com os conhecimentos que circularam nessa noite histórica para ANPEd e para a educação brasileira. Mais cedo, o público já havia tomado experimentado a culinária da região em um café amazônico oferecido pelo evento.

A Reunião Nacional da ANPEd segue até até o dia 27 de outubro com uma ampla programação científica, de debates e lançamentos de livros, com a presença de pesquisadores do Brasil e de países da América Latina e do Norte na UFAM. Confira mais informações e a programação completa no site do evento.